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Hoje é dia de índio, apesar de não ver comemorações e nem mesmo ameças de lembranças sobre o por que hoje é dia de índio, já que me parece que este "dia especial" fica restrito a lembrança das professoras em escolas de educação infantil, pensei que poderíamos aqui falar um pouco sobre coisas de índios.
Ouço alguns se questionarem sobre o por que um dia especial para índios ou negros, será que isso não incita a preconceitos ?
Respondo de minha parte que não acho !
Mas, ha de se levar em conta que banalizado como estão, estes dias também não geram reflexões que culminariam em uma convivência melhor entre todos e necessariamente DIREITOS HUMANOS garantidos.
O fato é que estes - negros, índios - sempre foram menorizados nesta cultura branca, opressora e exploradora, e temos aí exemplo concretos como a dificuldade de reintegração das terras aos índios do centro- norte do país, por exemplo.
Os dias comemorativos, hoje já quase não lembrados, são uma ponte a consciência sobre como queremos viver, com quem e a que preço ?! Porem, despidas de simbolismos, estas datas, serve a reforçar o que já há mais de 500 anos se tem feito às culturas diferentes nas Américas. Culturas estas que com seus símbolos e valores "estranhos" ao hegemônico, que em sua visão opressora à nada servem , apenas servem para atravancar o "progresso", a qualquer custo, a qualquer preço...
Se hoje é dia de índio, é por que devemos nos elevar ao menos neste dia à sua SABEDORIA e APRENDER com eles símbolos e valores diferentes desses de opressão, ganancia, e poder a qualquer custo.
E é na tentativa de nos ajudar a entrar em contato com este mundo mítico indígena e dele extrair sabedoria, que posto aqui o mito de criação do mundo contado pelo povo Munduruku (Mito Tupi) e recontado por Daniel Munduruku no livro : Contos Indígenas Brasileiros da editora Global
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DO MUNDO DO CENTRO DA TERRA AO MUNDO DE CIMA
No antigo tempo da criação do mundo com toda sua beleza, os Munduruku viviam dispersos, sem unidade e guerreando entre si. Esta era uma situação muito ruim que tornava a vida mais difícil e indócil. Foi aí que ressurgiu Karú-Sakaibê, o Grande Criador, que já havia realizado tantas coisas boas para este povo.
Contam os velhos que foi ele quem criara as montanhas e as rochas soprando em penas fincadas no chão. Eram também criações dele os rios, as árvores, os animais, as aves do céu e os peixes que habitam todos os rios e igarapés.
Karú-Sakaibê, tendo percebido que o povo que ele criara não estava unido, decidiu voltar para unificá-lo e lembrá-lo como havia sido trazido do fundo da terra quando ele decidiu enfeitar a terra com gente que pudesse cuidar da obra que criara.
assim contam os velhos sobre a vinda dos Munduruku ao mundo de cima:
Karú-Sakaibê andava pelo mundo sempre em companhia de seu fiel amigo Rairu, que embora fosse muito poderoso, gostava de brincar e se divertir. Um dia, Rairu fez uma figura de tau juntando folhas, gravetos e cipós. Era uma imitação perfeita. Tão perfeita que o jovem brincalhão resolveu colá-lo com resina feita com cera de mel de abelha para que seu desenho nunca desaparecesse. Para secar a resina Rairu enterrou seu "tatu" embaixo da terra deixando apenas o rabo para fora. Porém, quando ele tentou, depois de algum tempo, retirar sua mão do rabo não conseguiu, pois a resina havia secado e ele ficara grudado no rabo do tatu.
Como Rairu tinha um grande poder, deu vida ao desenho e este, em vez de querer sair do buraco, foi adentrando-se cada vez mais, carregando consigo o pobre rapaz preso ao seu rabo. Por mais que tentasse se soltar não conseguia. O tatu-desenho foi cada vez mais fundo e quando chegou ao centro da terra, Rairu encontrou muita gente que por lá morava. Tinha gente de todo jeito: algumas eram bonitas, outras eram feias; algumas eram boas e outras eram más e preguiçosas.
Rairu ficou tão impressionado com aquilo que decidiu sair rapidamente do buraco para contar a Karú-Sakaibê, que já devia estar preocupado com sua demora. E estava mesmo. Karú irritou-se tanto com seu companheiro que decidiu castigá-lo, batendo nele com um pedaço de pau. Para se defender o jovem contou sua aventura ao centro da terra e como ele havia encontrado gente lá. Estas palavras chamaram a atenção de Karú, que decidiu trazer toda esta gente para o mundo decima.
Rairu ainda perguntou como poderiam fazer isso se eles estavam tão longe. O herói criador nem sequer deu ouvido ao jovem. Começou a fazer uma pelota e enrolá-la na mão. Em seguida jogou a pelota no chão e imediatamente nasceu um pé de algodão. colheu, então, o algodão e com suas fibras fez uma corda que passou na cintura de Rairu e ordenou que fosse ao centro da terra buscar as pessoas que ele vira.
Rairu desceu pelo mesmo buraco do tatu. Quando chegou reuniu todo mundo e falou das maravilhas que havia no mundo de cima e que queria que todos subissem pela corda para conhecer este novo mundo. Os primeiros a subir foram os feios e os preguiçosos, qor que estes imaginavam que iam encontrar alimento com muita facilidade nunca mnais precisariam trabalhar. Depois subiram os bonitos e formosos.No entanto, quando estes últimos já estavam quase alcançando o topo, a corda arrebentou e um grande número de gente bonita caiu no buraco e permaneceu vivendo no fundo da terra.
Como eram muitos, Karú- Sakaibê quis diferenciá-los uns dos outros. Para que uns fossem Munduruku, outros Mura, arara, Mawé, Panamá, Kaiapó e assim por diante. Cada um seria de um povo diferente. Fez isso pintando uns de verde, outros de vermelho, outros de amarelo e outros de preto. No entanto, enquanto Karú pintava um por um, os que eram feios e preguiçosos adormeceram.
Esta atitude das pessoas feias irritou profundamente o herói criador]. Como castigo por sua preguiça, Karú-Sakaibê os transformou em passarinhos, porcos-do0mato, borboletas e em outros bichos que passaram a habitar a floresta.
No entanto, àqueles que não eram preguiçosos ele disse:
- Vocês serão o começo, o princípio de novos tempos e seus filhos e os filhos de seus filhos serão valentes e fortes.
E para presenteá-los por sua lealdade, o grande herói preparou o campo, semeou e mandou chuva para regá-lo. e tão logo a chuva caiu nasceram a mandioca, o minho], o cará, a batata-doce, o algodão, as plantas medicinais e muitas outras que servem, até os dias de hoje, de alimento para esta gente. Ainda os ensinou a construir os fornos para preparar a farinha.
Contam nossos avós que foi assim que Karú-Sakaibê transformou a grande nação Munduruku num povo forte, valente e poderoso...
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